Violência, invisibilidade, desigualdade, preconceito. As inúmeras violações sofridas pelas mulheres em nossa sociedade foram os tópicos mais abordados durante o lançamento da Campanha Nacional "Em Defesa Delas: defensoras e defensores públicos pela garantia dos direitos das mulheres", no Rio, nesta quarta-feira (22/05), na ALERJ.
Uma das convidadas a compor a mesa do evento, a deputada Renata Souza afirmou que a campanha torna-se ainda mais essencial no período atual:
— Vivemos em um momento em que a autonomia das mulheres, expressão fundamental da possibilidade da afirmação de seus direitos, tem sido vilipendiada nos discursos e práticas — declarou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa.
Para a deputada Tia Ju, 3ª vice-presidente da ALERJ, que também compôs a mesa, a campanha é instrumento importante de divulgação e conscientização de direitos referentes às questões de gênero:
— Sabemos que não é fácil tocar uma campanha como essa numa sociedade que diminui a mulher, como se todos os problemas que temos na sociedade fosse mito da nossa cabeça.
A diretora de Assuntos Legislativos da ANADEP, Maria Carmen de Sá, levantou os vários aspectos de violação de direitos das mulheres, além da violência doméstica que é o mais conhecido.
— A campanha pretende enfrentar também a violência obstétrica, o machismo institucional, falar dos direitos das presas e adolescentes internadas, enumerou ela.
Já a juíza Katerine Jatahy Kitsos Nygaard, e integrante do Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (COEM), fez ponderações sobre a diversas faces do machismo nos espaços de poder, que inviabilizam a participação da mulher na tomada de decisões.
A defensora Arlanza Rebello, da Coletiva de Mulheres Defensoras Públicas do Brasil, lembrou que é fundamental implementar os direitos defendidos pela campanha também dentro da própria Defensoria:
— Numa sociedade machista e racista, a Defensoria também acaba por viver essa contradição de garantir direitos, mas também de promover violações de raça, de gênero e outras tantas — declarou Arlanza, ao explicar o motivo da criação do coletivo.
Também houve espaço para comemorar avanços, a começar por uma mesa composta só por mulheres no evento, como ressaltou a 2ª subdefensora pública-geral, Paloma Lamego.
A atuação do Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher (NUDEM) foi um dos pontos positivos expostos no encontro. A coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher da DPRJ, Flávia Nascimento, e a coordenadora do NUDEM, Maria Matilde Alonso, contaram um pouco da história e do trabalho do núcleo. Foi apresentado um vídeo com relatos sobre o dia a dia do órgão, criado há mais de 20 anos.
— A participação permanente com a sociedade civil, somada à experiência na atuação em defesa delas, contribui para compreendermos quem são essas mulheres e qual sua realidade diária — declarou Flávia, ao celebrar o fortalecimento da política institucional de gênero nas defensorias públicas nos últimos anos.
Integrante da Comissão da Mulher da ANADEP e do Fórum Justiça, a defensora Rosane Lavigne lembrou as parcerias históricas entre a Defensoria Pública e o movimento de mulheres, e parlamentares, na conquista de direitos para esse público. A campanha, segundo ela, é fruto dessa trajetória de lutas da instituição para tirar projetos do papel e assegurar uma sociedade mais igualitária.
— Esta campanha visa desenvolver a perspectiva de gênero e raça no âmbito interno, a nível nacional e construir um portfólio de ação em defesa delas — afirmou Rosane.
A defensora Letícia Furtado, Coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos Homoafetivos e Diversidade Sexual (NUDIVERSIS) fez um alerta para que as ações não deixem de lado as mulheres bissexuais, lésbicas, travestis e transexuais: "Nenhuma a menos", concluiu.
A presidente da ADPERJ, Juliana Lintz, agradeceu a acolhida da Casa e lembrou que a campanha tem duração de um ano, e uma série de ações serão realizadas até abril de 2020.
— Conclamo a todas e todos para se juntarem a nós nessa campanha, compartilhar com amigos e familiares, para que estejamos cada vez mais preparados para lutar em defesa delas", declarou. E lembrar que quando as defendemos também estamos nos defendendo. Elas também somos nós.
Texto e fotos Flávia Villela / ADPERJ