Racismo, feminismo, direitos humanos. Expressões utilizadas para designar direitos de toda a sociedade acabaram, com o tempo, sendo “criminalizadas”. Fazer com que as pessoas compreendam que esses termos também visam a garantir o direito delas deve ser encarado como um desafio da Defensoria Pública, afirmou a jornalista Flávia Oliveira, em palestra no V Encontro Estratégico da DPRJ. O evento acontece nesta sexta-feira, no hotel Windsor Flórida, no Flamengo, e tem como objetivo debater a atuação da instituição.
– Gostaria de apresentar a vocês uma questão, que tem a ver com o fato de eu ser profissional de comunicação, que é o desafio da linguagem. Nos últimos anos, foi possível identificar claramente um processo de construção de narrativas no qual algumas expressões acabaram ‘criminalizadas’. Temos o desafio de desideologizar determinadas expressões. A primeira delas é Direitos Humanos. Usar essa singela expressão, hoje, põe fim a qualquer tentativa de construção de diálogo – afirmou.
Segundo a jornalista, esse desafio é dos profissionais de comunicação, mas também daqueles que atuam na defesa de direitos. Nesse sentido, ela destacou que a Defensoria, “como instituição que defende direitos humanos”, precisa trabalhar também na construção “desse novo glossário”, justamente “para restabelecer o diálogo com a sociedade”.
No evento, Flávia ressaltou também a importância da Defensoria Pública na defesa dos direitos conquistados por grupos minoritários (como mulheres, deficientes, LGBTIs), que vêm sofrendo um “desmonte”.
– Preciso falar sobre a ótica da profissional, mas também como mulher negra, da periferia, criada por uma mãe largada do marido, como se dizia. Estudei a vida toda em escola pública. Desse conjunto de vivências e experiências, venho tratar com vocês sobre os desafios da cidadania. Acho que o fundamental sobre qualquer reflexão do Brasil deve partir da percepção das desigualdades que nos forjaram: o patrimonialismo, o machismo e o racismo, que ainda marcam os espaços de privilégios e de poder. É fundamental entender que essas desigualdades existem e atuam juntas, identifica-las e se sentir desconfortável com elas – afirmou.
Nesse sentido, a jornalista propôs à DPRJ a atuação em algumas áreas. Uma delas diz respeito à produção de dados. De acordo com ela, a Defensoria, quanto instituição, pode contribuir para o diálogo e as ações em defesa da qualidade que nos permitam conhecer a realidade.
– É importante zelar pela qualidade da informação, dos aparatos da estrutura da apuração e sistematização de dados e indicadores que nos permite analisar políticas públicas. Sem informações, a gente perde uma grande capacidade de argumentação e atuação nas políticas a serem elaboradas – ressaltou.
A jornalista sugeriu ainda o maior diálogo com os moradores de favelas, subúrbios, escolas, dentre outros, não apenas para identificar as violações de direitos humanos pelas forças de segurança, mas também para identificar vulnerabilidades socioeconômicas.
– Há riscos quanto ao acesso à saúde, educação e liberdade religiosa. Há uma escassez de recursos e, diante deste projeto de desmonte, esses grupos podem ficar ainda mais vulneráveis. Acho que é papel desta casa ser um termômetro do que ocorre nas comunidades a fim de se antecipar para tentar minimizar essa vulnerabilidade. Temos verificado cada vez mais o aumento da extrema pobreza – afirmou.