Na última sexta-feira (22), o coordenador de Defesa Criminal da Defensoria Pública do Rio (DPRJ), Emanuel Queiroz, participou do debate após o espetáculo Cárcere, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Em circulação mundial há cinco anos, a peça trata de uma semana na vida de um pianista que, privado da liberdade e de seu piano, será refém em uma rebelião que está pra acontecer. A convite de Emanuel, dois egressos que trabalham na Defensoria através do  do Projeto Novos Rumos também participaram da atividade, além dos ativistas Samuel Lourenço e João Luis Silva, que transformaram suas experiências no cárcere em luta. 
 
Para Emanuel, criamos a falsa ilusão de que o encarceramento em massa gera segurança, mas somos o 3º país do mundo que mais prende e mesmo assim não melhoramos a segurança no país. O defensor acredita que as pessoas devem ser responsabilizadas por seus atos, embora o que se viva dentro dos presídios vá além da responsabilização:
 
- Falar de cadeia é falar de dinheiro. Sabemos que um preso custa muito mais que um estudante para o Estado. Mas as pessoas querem que você sofra na cadeia, principalmente se você for negro e pobre. A desumanidade é brutal neste espaço! O Estado fala em ressocialização enquanto 3% da população brasileira não possui documento de identificação. É desumano!
 
O estudante Samuel Lourenço, que se encontra em livramento, ficou nove anos preso. Atualmente, ele está concluindo o curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social na UFRJ e é autor do livro “Além das grades”, que faz um retrato do sistema prisional de quem já viveu o que ele realmente é. Para ele, onde há muro, cela e desconfiança não há ressocialização: 
 
- Como se espera que as pessoas sejam ressocializadas em um espaço onde a confiança é construída na base da desconfiança? Aqui fora, para sempre seremos ex-presidiários. Na rua, o mínimo de dignidade humana que lhe é devolvida é o máximo que você vai ter. 
 
Já para o estudante de Direito João Luis, o mesmo sistema que transgride as leis, cisma em que vai te ensinar a cumprir as regras quando você sair:
 
- Como a ressocialização se dá com as condições degradantes e as torturas sistemáticas nos presídios? E aqui fora está tatuado de forma invisível na nossa testa que somos ex-presidiários. Quem dá oportunidade para egresso? O sistema é construído para te matar, se não dentro, quando sai do presídio. A ressocialização só existe se você se auto ressocializar. 
 
O debate aconteceu após o espetáculo que acompanha os registros do diário do pianista desde o dia que ele é preso até o dia da rebelião. A peça fica em cartaz até o dia 3 de março, no CCBB.
 
Foto e texto: Thathiana Gurgel


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