Adriele cumpriu medida socioeducativa. Agora sonha com a faculdade de Direito 

 

A última segunda-feira (12) foi um dia muito importante para Adriele*, de 17 anos. A adolescente, que até bem pouco tempo cumpria medida socioeducativa, havia sido selecionada para o Programa Jovem Aprendiz, que a Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) inaugurara naquele dia. Ela e outros 18 jovens terão um ano e meio de aulas práticas e teóricas e aprenderão o ofício de auxiliar administrativo. 

– Estou muito feliz, pois é uma grande oportunidade. Sem falar, que agora vou até poder ajudar em casa – afirmou animadamente a jovem, que chegou a cumprir a medida socioeducativa de liberdade assistida após praticar ato infracional análogo ao crime de associação ao tráfico. Hoje a adolescente, que está no ensino médio, sonha com a faculdade de Direito. 

O Jovem Aprendiz é resultado de um convênio entre a Coordenação da Infância e Juventude da DPRJ e a Denjud, empresa do ramo alimentício. Firmada com a supervisão da Superintendência do Ministério do Trabalho e Emprego do Rio, a parceria se tornou possível após uma mudança na Lei de Aprendizagem (nº 10.097/2000), ocorrida em maio de 2016 com a edição do Decreto 8.740. Desde a alteração, empresas que não têm estrutura para receber aprendizes, mas ainda assim desejam cumprir a quota legal, podem implementar o programa em parceria com órgãos públicos, por exemplo, onde pode ser realizada a prática.

Ao todo, 19 jovens do sistema socioeducativo ou em situação de vulnerabilidade foram selecionados para esta primeira turma da iniciativa. O programa terá duração de um ano e meio. O primeiro mês será composto por aulas na Fundação Escola Superior da Defensoria Pública (Fesudeperj). Após a volta do recesso do Poder Judiciário, no dia 7 de janeiro, a teoria será intercalada com as práticas profissionais nos órgãos da DPRJ, três vezes por semana. Cada jovem aprendiz deverá cumprir uma carga horária de quatro horas diárias. Para isso, eles receberão uma bolsa auxílio de R$ 600 mais um auxílio passagem. 

 

19 jovens do sistema socioeducativo ou em situação de vulnerabilidade foram selecionados 

 

Ao abrir a primeira aula, a defensora Maria Carmen Sá, Coordenadora da Infância, explicou aos jovens que eles estão em formação e é responsabilidade de quem atua no projeto guiá-los no mundo do trabalho. Contudo, todos vêm para somar à Defensoria Pública. 

– É com enorme alegria que a Defensoria recebe essa primeira turma – destacou a defensora, ressaltado a importância do projeto, para oferecer novas oportunidades a adolescentes e jovens que sofrem estigma por sua condição social ou pela prática de ato infracional.

A coordenadora lembrou que a Defensoria Pública integra a Comissão Institucional para a Aprendizagem do Rio de Janeiro (CIERJA) e, portanto, espera que a iniciativa seja seguida pelas demais instituições que compõem o Sistema de Justiça e integram a CIERJA.

– É importante que todos recebam adolescentes do banco de dados e que ostentam passagem pelo Sistema Socioeducativo, pois só assim passaremos da teoria para prática – destacou. 

Na ocasião, Alex Bolsas, superintendente do Ministério do Trabalho do Rio, destacou o “poder transformador da aprendizagem”. Já Ramon Santos, auditor fiscal do Trabalho e responsável pela parceria entre a Denjud e a DPRJ, parabenizou os jovens, “que foram selecionados e aprovados”, destacando a atuação de rede de proteção e a importância das parcerias que o MTE realiza, dentre elas essa com Defensoria Pública. Ele também desejou sucesso a todos. Aplaudidos, os profissionais destacaram a importância da manutenção do Ministério do Trabalho para fomentar iniciativas como estas, uma vez que os são os auditores do órgão que realizam as fiscalizações nas empresas e asseguram o cumprimento das cotas previstas em lei. 

Jovens aprenderão ofício de assistente administrativo 

 

A representante da Denjud Carla Vinnercart disse não ter dúvidas que os aprendizes darão o seu melhor. 

– Ficamos felizes em recebê-los. A gente acredita muito no potencial de vocês. Só conseguimos mudar quando temos escolhas. Portas estão sendo abertas para vocês e tenho certeza que vocês agarrarão isso. Agora, vocês estão se tornando mais responsáveis pela vida de vocês – afirmou. 

 

Oportunidade

No que depender dos aprendizes, motivação não vai faltar. Rafael*, de 18 anos, cumpre atualmente medida socioeducativa de liberdade assistida. Ele afirmou que está feliz com a oportunidade e que se dedicará para aprender a profissão. Com um sorriso largo e esperançoso, disse também que estudará para ser policial. Acompanhado do pai na primeira aula, os dois fizeram selfies no intervalo para enviar para a mãe do jovem. 

– O trabalho consegue mexer com o jovem. Meu filho estava sem expectativa e agora vê a possibilidade de ir além do que eu espero e mesmo do que ele próprio espera – afirmou o pai do jovem. 

 

Mônica com o filho Kauê. Jovem tem 14 anos e foi um dos selecionados para o programa

 

Mônica também acompanhava o filho, de 14 anos. Moradora de uma comunidade em Santa Cruz, ela ficou feliz com a seleção do rapaz. Ela já perdeu um filho para a criminalidade e estava com medo de que o mais novo fosse cooptado justamente em razão da falta de oportunidades. Kauê falou que estava feliz por se tornar aprendiz. 

– Estou animado. Essa oportunidade vai me ajudar a ter experiência, o que será bom lá na frente. Estou muito feliz – afirmou. 

 

*Nomes fíctícios. 

 



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