“Pai, você quase nunca sorri.” O comentário da filha de 15 anos fez com que José Carlos Nascimento Silva Brasileiro constatasse o que a letra dura da lei não prevê. Após cumprir 16 anos de pena, a lembrança do cárcere perpetua o drama que só quem viveu o horror do sistema penal brasileiro conhece. “Eu percebi que ainda não me libertei”, contou Brasileiro, um dos convidados para a exibição do documentário Sem Pena, exibido na noite de terça-feira (12) na abertura do Cine Debate, iniciativa da Defensoria Pública, do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) e da Fundação Escola Superior da Defensoria (Fesudeperj).
Prêmio de melhor filme na categoria júri popular do 47º Festival de Brasília, em setembro do ano passado, a produção discute a justiça criminal brasileira, das audiências às prisões, passando pelas filas de familiares em dias de visita. Pontuado por depoimentos que revelam as muitas visões sobre o mesmo tema, o documentário retrata em 90 minutos um problema institucional endêmico, mas que boa parte da sociedade prefere ignorar. Ambientes degradantes em que seres humanos se amontoam em busca da ressocialização que, como todos sabem, não passa de discurso.
Após a exibição, a realidade mostrada na tela foi debatida pelo produtor executivo do filme, o advogado e diretor do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IIDDD) Hugo Leonardo; o defensor público e coordenador de Defesa Criminal da DPGE, Emanuel Queiroz Rangel; e José Brasileiro, que preside o Instituto da Consciência Negra Nelson Mandela.
“Todos somos vítimas desse sistema”, advertiu Leonardo. “Por esta razão, queremos levar o filme ao maior número possível de pessoas para que esse problema seja ‘comunicado’ e discutido com a sociedade.”
O coordenador de defesa criminal ressaltou que o papel da Defensoria Pública tem sido o de lutar contra a dor das pessoas que o filme retrata. “Quando o cidadão sai do cárcere, apenas um grupo o aguarda de braços abertos: a criminalidade. É isso que estamos tentando mudar”, afirmou Emanuel Queiroz.
O evento de ontem faz parte da agenda Maio Verde, em comemoração ao Mês da Defensoria. “Queremos mostrar que a instituição deve estar aberta ao debate de temas centrais em nossa sociedade. E, para isso, nada melhor do que o cinema, pois a arte é a melhor maneira de sensibilizar e estimular a reflexão”, justificou a defensora pública Adriana Britto, diretora de capacitação do Cejur.
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