A Ouvidoria Geral da Defensoria Publica do Rio de Janeiro recebeu representantes da sociedade civil, mulheres de diversas especialidades ligadas à saúde mental e defensoras públicas, na última segunda-feira (20). No auditório da Fundação Escola da Defensoria do Estado (FESUDEPERJ), a roda de conversa discutiu parâmetros de autocuidado e defesa de mulheres que sofrem com transtornos mentais.
O Papo de Mulher, iniciativa da Associação Metamorfose Ambulante de Usuárias de Saúde Mental (AMEA) e da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública da Bahia, acontece semanalmente em espaço defensoria, contou Heisleide Bonfim, presidenta da AMEA.
Ludmila Cerqueira, doutora em Direito pela UNB e professora da UFPB abriu o encontro com as reflexões importantes e necessárias por uma pedagogia da loucura.
A reunião também contou com a presença das defensoras e coordenadoras Lívia Casseres, do Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos (Nudiversis), e Flávia Nascimento, coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher.
Os temas abordados passearam por violação dos direitos e da integridade física de mulheres em fase de sofrimento mental ou de uso abusivo de drogas. O objetivo do papo é abrir espaços de diálogos para a construção de maneiras de lidar com essas pessoas através do autocuidado.
– O cuidado antimanicomial feminista e antirracista precisa ser debatido sim pela sociedade e pelo sistema de justiça, com a rede de atenção psicossocial para discutir formas de tratamento em saúde mental não estigmatizante e não institucionalizador, no sentido de reduzir o impacto negativo causado pela privação da liberdade na vida das pessoas – defendeu a defensora Patrícia Magno, que participou da roda de conversa.
A doutora Ludmilla falou sobre sua tese "Pedagogia da Loucura", que trata das experiências de assessoria jurídica popular em projetos de extensão universitária. Para ela, o Papo de Mulher "é uma questão de afeto", pois facilita a vida dessas pessoas para promover acesso ao direito e à Justiça.
– A escuta é tão pouco exercida na nossa formação. A gente aprende oratória, a falar bem mas não aprendemos a escutar. Esse é um elemento importante –explicou a palestrante.
Usuária de saúde mental há 24 anos, Heliseide contou sobre sua trajetória de vida depois de ter duas depressões pós-parto e mais de 7 internações psiquiátricas. Ela relatou os maus-tratos sofridos na instituição que ficou internada, como ser amarrada à cama e não higienizada pelos profissionais. Hoje, militante da luta antimanicomial, Hesleide afirma ter se empoderado e recuperado o respeito das pessoas e de seus familiares.
– O preconceito contra a loucura é sério, porque mata mais que a doença. Lutamos para que as usuárias de saúde mental também sejam observadas e tenham suas questões escutadas – disse a Hesleide.