A elucidação de crimes envolve uma série de etapas que se estendem para além dos tribunais. Nesses processos circunda não somente as informações obtidas pelos laudos periciais, como também o posicionamento da defesa, principalmente se o caso está em julgamento no tribunal do júri. E para que os defensores públicos tenham a exata compreensão analítica de dados das investigações, iniciou-se, nesta sexta-feira (15), o curso de Práticas e Dinâmicas de Perícia Forense, na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
A perita e diretora da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia da Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Maria do Carmo Gargaglione, foi convidada para ministrar a primeira aula do curso, que abordou os mecanismos utilizados para "Perícia em Arquivos de Áudio e Vídeo". Na programação do curso, estão previstos outros quatro encontros, que discutirão “Perícias no Processo Penal”, “Crimes Sexuais e Contra Crianças”, “Balística Aplicada” e “Aspectos Práticos em Toxicologia Forense”.
Em muitos casos, as provas obtidas na cena do crime não são suficientes. Isso intensifica o trabalho dos peritos, que têm que buscar as evidências em outros meios, como imagens de câmeras de segurança, escutas telefônicas e dados de aparelhos apreendidos. A análise minuciosa desses elementos é crucial para nortear as investigações e afunilar a lista de suspeitos. Por isso, é essencial que se conheça a fundo os elementos de cada mídia para não tornar os laudos inconclusivos ou mesmo cometer erros.
Responsável por desvendar alguns dos principais casos investigativos no Rio por meio de análises de áudios e vídeos, Maria Gargaglione afirmou que é de extrema relevância que o defensor se situe sobre cada forma e técnica de avaliação dos materiais obtidos por esses meios, para elaborar bons argumentos ou saber que perguntas fazer sobre o caso.
– Quanto mais informações os defensores tiverem para executarem esse trabalho tão honroso, melhor para a sociedade, que não é nada justa – destacou a perita do MPRJ.
Os avanços tecnológicos se tornaram aliados fundamentais para construção dos laudo periciais. A perita explicou que, com o surgimento do smartphone, quase não há mais escutas telefônicas, já que é possível obter todas as informações produzidas e compartilhadas pelo suspeito apenas com a apreensão do aparelho.
Maria Gargaglione que muitas perícias hoje são realizadas com a utilização de ferramentas disponíveis a usuários comuns, como os programas de edição de imagens, acesso às redes sociais e informações disponíveis em sites de busca ou localização.
– Existem várias práticas forenses específicas para cada área. O ideal é que haja compreensão da dinâmica de cada uma delas porque todas convergem entre si. A sociedade está muito preocupada com tudo que acontece, mas precisa se atentar às novas possibilidades de trazer algo para todos nós. Temos que nos preocupar em acompanhar a evolução e usar a tecnologia a nosso favor para termos um mundo mais justo e equilibrado -, concluiu.
Texto e foto: Marcelle Bappersi