Animais têm sentimentos semelhantes aos nossos. Estudos comprovam que cães e gatos domésticos sentem amor da mesma forma que os humanos. Quando abandonados, sobrevivem no máximo dois anos na rua. Estima-se em um milhão e meio o número de animais abandonados na cidade do Rio de Janeiro. Cabe ao município acolher e cuidar dos bichanos em situação de rua. Na omissão de políticas e práticas eficientes do poder público, o trabalho espontâneo dos protetores de animais tem sido fundamental para salvar a vida desses seres tão amáveis, que são quase completamente dependentes da atenção, dos cuidados e do carinho do ser humano.
A carioca Carla Costa D'Avila (44), coordenadora de Contratos e Licitações da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, é uma protetora que vai longe no seu amor pelos animais domésticos. Analista processual com prática em licitações, na vida pessoal acumula experiência no resgate, na acolhida e na promoção da adoção responsável de gatos. Há dois anos ela administra a página de Facebook “Cegonha Felina Central de Adoção”. Dedicada a facilitar a adoção de gatos no município do Rio de Janeiro e cidades vizinhas, a página tem 20 mil curtidas.
O amor pelos animais e o impulso de acolhê-los estão presentes na vida de Carla desde a sua infância. Quando criança, recorda, ela colocava gatos na bolsa e os levava para casa. Decidiu engajar-se seriamente na proteção de animais domésticos abandonados aos 38 anos, quando começou a participar das campanhas de adoção na Praça General Osório, em Ipanema; e na Praça Saens Pena, na Tijuca.
Carla participou de diversas campanhas de adoção, ajudou em mutirões na Fazenda Modelo, atuou em associações como voluntária e deu suporte jurídico a protetores em denúncias de maus tratos. Atualmente, além de administrar o Cegonha Felina, atua voluntariamente nas campanhas de adoção responsável promovidas pela ANIDA (Associação Nacional de Implementação dos Direitos dos Animais), em parceria com a veterinária Andrea Lambert.
Tem quatro gatos (Benjamin, Rebeca, Cléo e Ester) e uma cachorra (Ana Maria). Mora com o filho num apartamento em Copacabana, onde acolheu animais temporariamente. Foram cinco anos de acolhida, período no qual cerca de 355 passaram pelos seus cuidados. O número máximo de animais que chegou a ter ao mesmo tempo foi o de 23 gatos.
– Nessa fase da acolhida, eu tinha dois cômodos reservados, com tudo organizado, para receber os animais. Mas eu parei com o resgate no ano passado, porque precisava dar uma organizada na minha vida. Além disso, a acolhida é dispendiosa – comenta.
Abandono é questão de saúde pública
A coordenadora de Contratos e Licitações da Defensoria Pública é uma ativista atuante em defesa da causa animal e está engajada no movimento contra o sucateamento do programa de castração. Ela conhece de perto o triste drama dos inúmeros animais jogados doentes ou prenhes na rua e de ninhadas abandonadas. A situação de cães e gatos em abrigos públicos, revela, também é muito precária.
– A questão do abandono de animais no Rio de Janeiro já está num patamar de saúde pública. Bichos são jogados na rua com doenças contagiosas que contaminam o ambiente. Além disso, os locais de acolhida que existem na cidade não passam de depósitos de animais, que morrem lá dentro. Isso não tem muita validade. É preciso ampliar as campanhas de castração e melhorar o serviço público de assistência veterinária e de acolhida.
Rebeca, a gata que caiu
Dentre os inúmeros casos de animais abandonados com os quais Carla se deparou, um deles a tocou no fundo do coração: o de uma gatinha que caiu do 6º andar de um prédio em Copacabana e se machucou gravemente.
– Uma pessoa me chamou em casa para socorrer a gata que tinha caído. Descobri que o apartamento de onde a gata caiu havia sido alugado com ela dentro. Os inquilinos não quiseram se responsabilizar pelo acidente. Ela se machucou, sofreu fraturas e passou por várias cirurgias. Recuperou-se, mas ficou muito nervosa e estressada. Eu não tive coragem de doá-la e a adotei. É a Rebeca – conta.
O acidente com Rebeca pode estar relacionado a um velho mito sobre os gatos: que eles amam mais o lugar onde vivem que o dono. Gatos amam os seus donos, têm sentimentos e não devem ser tratados como um objeto da casa. Carla D´Avila é quase um cupido no seu trabalho voluntário de intermediar o encontro afetivo entre os animais domésticos abandonados e os seus futuros tutores.
Acesse o Facebook da Cegonha Felina central de adoções aqui.
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