A Fazenda Santa Eufrásia, em Vassouras, no Sul Fluminense, abandonará definitivamente todas as encenações e atividades alusivas à escravização com que entretinha turistas, até bem pouco tempo recepcionados pela proprietária em trajes de sinhá e por homens e mulheres negros caracterizados de escravos. Um Termo de Ajustamento de Conduta entre o Núcleo contra a Desigualdade Racial da Defensoria Pública do Rio, o Ministério Público Federal e a dona da fazenda, Elizabeth Dolson, determina que a utilização comercial e turística da área só poderá ocorrer se tiver por objetivo combater o racismo e divulgar a história e a cultura das comunidades escravizadas.  

O documento estabelece também medidas reparatórias, inclusive com o custeio de material educativo (folhetos, cartilhas e vídeos) sobre “a escravização de pessoas no Brasil, em especial na região do Vale do Café”. O compromisso será assinado no próximo sábado, 6, às 9h, na Santa Eufrásia.

O texto é fruto de sugestões das comunidades quilombolas, do movimento negro e de professoras da Universidade Federal Fluminense.  Única fazenda particular tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Rio de Janeiro (Iphan-Rio), a propriedade foi assunto de artigo publicado, em dezembro de 2016, pelo site The Intercept Brasil, denunciando que ali ofereciam-se pacotes turísticos cuja principal atração era a teatralização do cotidiano de senhores e mucamas. 

O compromisso ressalta que a prática “naturaliza os horrores da escravização dos africanos e de seus descendentes, em tom contemplativo”. Uma das medidas reparatórias acordadas será justamente a instalação, na entrada da fazenda, de duas placas com detalhes sobre o passado do local, o trabalho forçado nas lavouras de café e o nome de todos os 162 adultos e crianças  que viveram na senzala em 1880, segundo inventário feito à época.

A proprietária e funcionários da Santa Eufrasia também passarão por curso de capacitação sobre a história dos que foram escravizados no Vale do Café e a herança cultural preservada por quilombolas.  Os representantes da fazenda terão ainda 60 dias para apresentar “pedido de desculpas público à comunidade negra”, na imprensa e em sites.

No sábado, 6, a assinatura do TAC será seguida de programação especial, em Vassouras, que inclui aula sobre Racismo e Educação, roda de conversa sobre Cultura Negra no Vale do Paraíba e roda de jongo. As celebrações preveem ainda audiência pública, no dia 23, para discussão sobre a situação de propriedades vizinhas com práticas semelhantes de desrespeito às comunidades negras.



VOLTAR