Os problemas de abastecimento d’água nos presídios do Rio de Janeiro foram debatidos pela Defensoria Pública do Estado em uma audiência na tarde desta segunda-feira (28). Organizado pelo Núcleo do Sistema Penitenciário (Nuspen) da instituição, o evento teve por objetivo encontrar meios que garantam o direito à água também por aqueles que se encontram privados de liberdade.
O defensor Marlon Vinicius Barcellos, coordenador do Nuspen, explicou que a Defensoria instaurou, há cerca de dois meses, um procedimento para apurar o racionamento d’água que ocorre nas diversas unidades prisionais do estado. Nas visitas que faz aos presídios, ele constatou ser uma prática o armazenamento d’água, pelos presos, em recipientes inapropriados, como garrafas pets.
O defensor contou que a situação mais grave que verificou foi no presídio Milton Dias, em Japeri. Ele conta que a água tinha tantas partículas, que se armazenavam no fundo das garrafas.
– Queremos conversar com todos os envolvidos para chegarmos a uma solução – afirmou Marlon na audiência pública.
Participaram da audiência representantes da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), do Instituto Consciência Negra Nelson Mandela, da Associação dos Amigos e Familiares de Presos, entre outras entidades.
Sauler Sakalem, representante da Seap, explicou que a decisão de racionar a água é tomada pela direção de cada unidade e que não há uma orientação da secretaria sobre o procedimento a ser adotado.
– Cada unidade decide sobre segurar ou não a água. Não há normativa da Seap nesse sentido. Depende da demanda e do consumo – ressaltou.
Em unidades superlotadas, o racionamento tende a ser é maior, esclareceu.
– Não adianta falar de água, se não resolvermos a questão da superlotação. O grande problema hoje do sistema penitenciário se chama superlotação. Então, cada vez mais teremos problemas com relação à água. Temos que pensar em solucionar esse problema maior para então resolver esse problema. Quando temos superlotação, temos problemas na visita, na escola que o preso estuda, na oficina onde ele aprende um ofício. Cada vez mais, teremos menos espaço para eles receberem os familiares, estudarem e aprenderem um ofício. Temos que começar a discutir seriamente essa questão da superlotação – afirmou.
Auricelli Mollo, da diretoria de distribuição da Cedae, afirmou que não há problemas de abastecimento. Contudo, a empresa vem fazendo obras para ampliar o fornecimento de água, que costuma crescer com a proximidade do verão.
– Na verdade, a unidade tem que ter meios para o armazenamento. O fornecimento é permanente. E com a proximidade do verão, vamos tentar aumentar a oferta. Temos relatórios mensais, com coletas, justamente para garantir que água está chegando. O procedimento é atestar que está chegando até a entrada do hidrômetro. A qualidade também é aferida até ali – destacou.
Gustavo Modesto Schimidt, gerente da Região Norte da Cedae, explicou que havia um problema de abastecimento no presídio feminino Talavera Bruce. Mas a empresa está realizando obras que já permitiram a regularização do abastecimento. Com relação à qualidade da água, ele afirmou que o problema pode ser interno. “As caixas d’água precisam ser limpas”, afirmou.
Medidas
O coordenador do Nuspen explicou que os depoimentos e esclarecimentos prestados por quem participou da audiência pública serão juntados a outros materiais já coletados no procedimento instaurado pela Defensoria para apurar o problema do abastecimento e da qualidade d’água que chega aos presídios.
Na audiência, também foram denunciados problemas relativos à proibição de familiares entrarem nas unidades com água potável, quando das visitas, sendo obrigados a comprar água nas cantinas por preço superior ao cobrado do lado de fora. Também foram relatados problemas na estrutura das unidades, como vazamentos frequentes, que levam ao desperdício.
– Conseguimos informações que não tínhamos e agora vamos sistematizá-las para montarmos uma estratégia – destacou Marlon Barcellos.