A rotina de sete mulheres “que amam demais” esteve em cartaz na noite de estreia do Cineclube Direito em Movimento, nesta quinta-feira (29), com a exibição do documentário “Cativas – presas pelo coração”. Protagonistas de cenas da vida real, - como a da revoltante revista vexatória no sistema penitenciário e também a da reservada visita íntima nas celas -, todas tiveram suas histórias de amor calorosamente aplaudidas ao final da exibição do primeiro filme do projeto, realizado através de parceria entre a Defensoria Pública do Rio, a Fundação Escola Superior da instituição fluminense (Fesudeperj), a Caixa de Assistência dos Advogados do Estado (Caarj) e o Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro – Cine Odeon.
A iniciativa voltada à promoção da cultura e dos direitos humanos por meio da discussão proposta nos filmes selecionados para a exibição, que deverá ser mensal, foi formalizada em termo de cooperação assinado pelos representantes das instituições antes do início da sessão no histórico cinema localizado na Cinelândia, no Centro do Rio. O defensor-geral do Estado, André Castro, esteve presente no lançamento do projeto e elogiou o trabalho de 12 anos de pesquisa da diretora do documentário, Joana Nin.
- Parabenizo a todos os envolvidos no projeto e também a todas. E que venham muitos outros! Também parabenizo a pesquisa e a dedicação na abordagem de um tema tão difícil e que leva tão poucas pessoas a se debruçar sobre ele, mas que é muito importante para melhorar a nossa sociedade – disse André Castro sobre o longa.
Igualmente satisfeito com a temática de “Cativas – presas pelo coração”, o 2º subdefensor-geral do Estado, Rodrigo Baptista Pacheco, ressaltou a alegria pela abertura do Cineclube e demonstrou otimismo em relação a novos projetos.
- Irmanada com a Ordem dos Advogados do Brasil, a Defensoria Púbica também é uma voz de resistência em momentos de radicalidade. As instituições progressistas devem estar unidas nas mais variadas lutas, com a do direito à moradia. Esse é o primeiro passo de muitos projetos próximos da Defensoria com a Caarj e a OAB – frisou Rodrigo Pacheco.
Convidado ao palco para a assinatura do termo, o diretor-presidente da Fesudeperj, defensor público Pedro Carriello, apontou a importância do cineclube:
- O Direito em Movimento vai permitir que a Defensoria Pública, junto com a Caarj, a OAB e a fundação, traga ao público e à área jurídica questões essenciais para a humanização na vida de hoje, tão truculenta. Sobretudo, permitirá debates nos quais o público poderá perceber um olhar que, normalmente, não está presente na grande mídia e nos filmes tradicionais – afirmou Pedro Carriello.
O presidente da Caarj, Marcello Oliveira, anunciou a participação do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) junto ao projeto e discursou sobre a importância de atrair a classe de advogados e de defensores públicos para a discussão dos temas propostos nos filmes a cada edição do cineclube. Segundo ele, a intenção é aprofundar debates.
- Podemos nos referir a vários episódios recentes em que tivemos de afirmar posições não compreendidas pela sociedade. Um deles foi o caso da liberdade de expressão e de manifestação em 2013. O outro é sobre o mandado de segurança impetrado por uma defensora pública para cumprimento da lei que impede a apreensão de criança e adolescente senão em flagrante delito ou por ordem judicial. E mesmo assim ela foi hostilizada nas redes sociais – lembrou Marcello Oliveira.
Debates
Após a exibição do filme houve debate mediado pela colunista do jornal O Globo e jornalista da Globo News, Flávia Oliveira, com o presidente da Fesudeperj, Pedro Carriello, a diretora do filme, Joana Nin, e a advogada e integrante da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ, Maíra Fernandes.
- Um documentário que joga luz sobre a situação das mulheres dos detentos, que também são prisioneiras, e ainda tem esse sugestivo nome de Cativas, é da maior importância. Humaniza o sistema, humaniza esse aparato judicial e, talvez, nos aponte um caminho de mais afeto, compreensão e tolerância no trato da sociedade com detentos e suas famílias. Vida longa à iniciativa – desejou Flávia Oliveira.
Questionada sobre a gravação das cenas com os próprios presos, em uma penitenciária paranaense, Joana Nin, explicou:
- Como quem manda em casa é a mulher, pedi a elas que convencessem os maridos a participar do filme durante as visitas no presídio. Mas também trabalhamos junto às assistentes sociais e selecionamos os casos, sempre respeitando todas as mulheres, sem julgá-las, e construindo uma relação de confiança. Na verdade, foi um longo trabalho junto a todos os órgãos – destacou.
O debate correu tão facilmente como as cerca de 300 cópias de cartas dos presos para as mulheres – e delas para eles -, desenroladas por Joana em direção ao público.
- Filmes como esse humanizam o sistema, que não valoriza a família dos presos e a trata como se criminosa fosse. A dificuldade da menina do documentário para tirar a carteira de acesso à penitenciária acontece aqui no Rio. Parece que o sistema faz tudo para dificultar esse acesso e o contato do familiar, o que é tão importante – pontuou Maíra Fernandes.
Texto: Bruno Cunha
Fotos: Divulgação / Flávia Freitas