A luta da defensora dos direitos humanos Maria do Espírito Santo Silva, assassinada com o companheiro na militância da floresta paraense e de seu povo, foi lembrada na noite desta quarta-feira (9) em homenagem prestada pela ONG Justiça Global à coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cdedica), Eufrásia Maria Souza das Virgens. A cerimônia realizada no Varal Bistrô, na Glória, também reverenciou a atuação na matéria de mais 10 “guerreiras de todo o país”.

Assim definidas por representantes da Justiça Global, elas receberam da organização a II Homenagem Maria do Espírito Santo Silva – Pela Valorização das Defensoras dos Direitos Humanos. O prêmio batizado com o nome da militante paraense tem o objetivo de manter viva a história de vida de Maria, que via na mata o sustento de todos e fazia questão de protegê-la de predadores da floresta conhecidos como madeireiros e grileiros.

- Estou profundamente agradecida e emocionada por compartilhar esse momento com mulheres tão lutadoras e em memória da grande guerreira que foi a Maria do Espírito Santo, na sua luta por uma sociedade mais justa e pela dignidade. Tenho total apoio institucional no trabalho para a defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, assim como todos os defensores públicos que lutam no enfrentamento à política de marginalização da população, principalmente dos adolescentes negros e moradores de periferia – destacou Eufrásia Maria Souza das Virgens.

A coordenadora da Cdedica teve reconhecida a sua atuação na Defensoria Pública do Rio e, em especial, a obtenção do Habeas Corpus coletivo e preventivo que impediu a polícia de realizar a apreensão de crianças e adolescentes, salvo por ordem judicial escrita e fundamentada ou em flagrante ato infracional. O HC foi impetrado por ela e pelo defensor público Rodrigo Fuly e teve a participação de todos os defensores atuantes na Cdedica.

Eufrásia Souza das Virgens, que também tem Maria no nome, foi a quarta a ter a sua história de vida contada ao público presente e também a receber a honraria: uma escultura produzida por artesãs do Vale do Jequitinhonha. A primeira das 11 homenageadas foi Anacleta Pires da Silva, do Quilombo Santa Rosa dos Pretos, no Maranhão.

- Não medi distância ao aceitar o convite para estar aqui nessa noite porque nosso trabalho passa muito pelo sentimento. Nós vemos o impacto da realidade ao nosso redor, no igarapé, na mãe natureza, mas não temos medo da luta e acreditamos que isso vai mudar no dia em que a sociedade se transformar e se (re)humanizar – discursou Anacleta.

As outras homenageadas da noite foram Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre; Cristiane Faustino, coordenadora do Instituto Terramar e ativista da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA); Francisca Moura Lopes, da ONG Justiça Global; Gilmara Cunha, presidente da Conexão G; Inaye Gomes Lopes, do movimento de educadores Guarani-Kaiowá; Michael Mary Nolan, presidente do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC); Patrícia de Oliveira, do Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro; Rose Meire dos Santos Silva, da Associação Quilombola Rio dos Macacos; e Valdênia Paulino, atuante no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Sapopemba.

Texto: Bruno Cunha



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