Luís Carlos de Azevedo, de 63 anos de idade, tem uma história com o mar. Guarda-vidas nas décadas de 80 e 90, ele sempre marcava ponto nas areias de Copacabana. Mas a vida nas ruas o afastou de sua profissão e paixão. Pelo menos até a última terça-feira (22), quando teve a oportunidade de ir à Praia da Urca, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para participar de uma oficina de canoagem. A atividade faz parte da grade do Acelerando a Escolaridade, projeto educacional que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) desenvolve junto a pessoas em situação de rua. Azevedo é aluno da iniciativa já há quase dois anos.
Acompanhado por instrutores e outros alunos do projeto, Azevedo participou da oficina de canoagem havaiana – um esporte náutico que tem se popularizado nas praias do Rio nos últimos anos. A iniciativa foi promovida em parceria com o Praia Vermelha Va’a Clube, que disponibilizou embarcações, equipamentos de segurança e instrutores que deram orientações de segurança e ensinaram técnicas básicas de canoagem. Para Luís Carlos, a oficina foi uma oportunidade de estar próximo a natureza e de aprender uma nova atividade no mar.
— Foi uma experiência indescritível, e eu agradeço muito à Defensoria. É muito prazeroso esse contato com a natureza. Foi uma oportunidade única poder participar da oficina — destacou.
Outro aluno do projeto, Pedro Paulo Santos, de 52 anos, praticou o esporte pela primeira vez. Ele conta que a oportunidade de ter uma nova experiência foi a principal motivação para participar da oficina.
— Eu fiquei muito empolgado em poder fazer algo pela primeira vez. Eu me senti seguro com a presença dos instrutores e as orientações durante o passeio. Foi muito bom mesmo — contou o aluno.
Na oficina foram utilizadas canoas havaianas OC6, que são embarcações com espaço para seis remadores. Durante a navegação, cada remador cumpre funções diferentes para que a canoa se mantenha estável, o que exige dos participantes atenção e trabalho em equipe. Luiz Otávio Mantovaneli, um dos professores do projeto, acredita que a atividade, além de possibilitar uma nova perspectiva sobre a cidade, estimula o senso de coletividade entre os alunos.
— É importante promover atividades que estimulem o trabalho em equipe. Algumas canoas possibilitam a navegação em grupo e o passeio é resultado do esforço de cada um deles durante a navegação — afirmou.
Atleta profissional e instrutor de canoagem há quase 10 anos, Vitor Jahara acredita que, além de estimular o senso de disciplina e companheirismo, a oficina é uma oportunidade de proporcionar aos alunos do Acelerando a Escolaridade um momento de bem-estar físico e mental.
— Além dos aprendizados que o esporte pode possibilitar, é muito gratificante poder proporcionar um momento de lazer para os alunos do projeto — afirmou Jahara.
O Acelerando a Escolaridade foi criado de 2017 e é realizado com o apoio da Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj), do Centro de Estudos Jurídicos (CEJUR) e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (NUDEDH) da DPRJ. O projeto é direcionado à população em situação de rua. Além das aulas do ciclo básico de ensino, a iniciativa encaminha os alunos para cursos de formação profissional e realiza passeios culturais e aulas sobre direitos fundamentais.