Giselle Monteiro de Sousa Albuquerque (40) é a servidora concursada que caiu do céu para o Núcleo do Sistema Penitenciário (Nuspen). Ela trabalha em uma sala na Vara de Execuções Penais cedida à Defensoria Pública, dentro do Fórum Central do Rio, ou simplesmente "salinha na VEP", como foi apelidado o pequeno espaço. Nas palavras do defensor público Marlon Barcellos, coordenador do núcleo, "Giselle é quase insubstituível". Os colegas servidores vão mais longe: dizem que, sem a Giselle, as coisas não andam. E por que essa servidora faz toda a diferença para o andamento dos processos de execução penal de 85% dos 51 mil presos no estado do Rio de Janeiro que são assistidos da Defensoria Pública? A resposta: uma década de experiência na VEP.
– Ao longo da vida, a gente vai fazendo uma bagagem. Eu cheguei aqui com uma bagagem de dez anos de experiência como funcionária terceirizada na VEP. Quando fui convocada pela Defensoria Pública, em 2012, a Coordenação de Recursos Humanos considerou a minha experiência anterior e abriu essa possibilidade de eu vir pra cá. Acredito que isso fez toda a diferença para a instituição e também para mim. Na VEP, eu enxergava o problema do preso pelo lado burocrático, do tempo do papel, o tempo da burocracia do tribunal. Quando eu mudei de lado, passei a ver situação dos processos pelos olhos dos defensores, sob a ótica da urgência do fator humano. Essa mudança de olhar foi muito interessante – conta Giselle.
Interessante principalmente para os 37 defensores públicos do Nuspen que, com a chegada de Giselle à casa, cinco anos atrás, ganharam uma força e tanto para tocar os processos. Por isso, ela é uma servidora muito querida e que guarda com orgulho os elogios que recebe dos membros da instituição. E não é para menos: a equipe da Giselle – que inclui os estagiários Elvys Gerson, Felipe Alvarenga e Natália Gussen e o servidor extraquadro Marcio Lopes – recebe uma média de 50 solicitações urgentes por dia. Por mês, a equipe totaliza mil pedidos urgentes, que chegam por e-mail e dois mil pedidos por boletas. Em sua maioria, os pedidos urgentes referem-se a benefícios vencidos e problemas de saúde dos presos, como ela mesma explica:
– A gente está aqui para ajudar os presos. Nós representamos os presos na Vara de Execuções Penais. Agimos pelos presos. Mesmo com uma equipe reduzida, fazemos o melhor para tocar os processos fazendo os pedidos para realizar as decisões judicias. As urgências são muitas, os benefícios vencidos são muitos. Então, é um funil. Não tem um dia tranquilo. É sempre um volume imenso de trabalho. Mas a gente se organiza e tenta fazer a diferença para, no mínimo, encaminhar aqui dentro os pedidos que são feitos. Fazemos a ponte para os defensores, os servidores e estagiários do Nuspen não ficarem vindo ao Fórum. Os defensores encaminham, por e-mail ou boleto, os pedidos que fariam aqui pessoalmente, no balcão. Nossa equipe recebe os pedidos e faz o contato direito com os processantes, os diretores, os juízes ou o cartório da VEP. Faço o máximo que posso para atender os pedidos.
Expertise no mapa da VEP
Giselle tem formação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhava como professora quando foi convidada por uma organização não governamental para integrar a equipe da Central de Penas e Medidas Alternativas da VEP, implantada em 2001. Embora o contrato fosse temporário e numa área completamente diferente da sua, o salário foi um fator atrativo e decisivo para quem tinha de sustentar sozinha o filho pequeno. Sem temer o desafio, Giselle se encorajou e começou a caminhada que, dez anos depois, a levaria a um emprego estável de servidora pública na Defensoria.
– Eu não conhecia absolutamente nada na área quando fui trabalhar na diretoria geral da Vara de Execuções Penais. Devo muito à diretora da VEP da época, a Marinete Tani, que sabia como capacitar bem um funcionário. Assim, graças a ela, eu fui me situando e aprendendo o trabalho. Foi a Marinete quem me avisou do concurso para a Defensoria Pública. Ela me incentivou, disse que tinha tudo a ver comigo e que iriam chamar muita gente.
Mulher aguerrida, que desejava a estabilidade profissional para espantar de uma vez por todas o fantasma do desemprego, Giselle encarou os estudos para o primeiro concurso da DPRJ. Conseguiu bolsa num curso preparatório e leu muito em casa. Aprovada e convocada, realizou um sonho de vida.
– Quando me ligaram do RH, eu comecei a chorar na hora, acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida, recorda-se.
Hoje Giselle se sente plenamente realizada na profissão e gratificada pelo reconhecimento do seu empenho no Nuspen junto à VEP. Casada desde 2009 com Rogério Luiz Barata de Albuquerque, mãe de Yan (5) e de Gabriel (20) e avó de Gabriel (2), todo o tempo que tem disponível fora do trabalho dedica à família. Afinal, ela gosta mesmo de dar o melhor de si em tudo o que faz.