Com o objetivo de assegurar o direito de mulheres encarceradas continuarem participando da vida de seus filhos e filhas, a Defensoria do Rio realizou, na última sexta-feira de junho (24), um evento no Instituto Penal Talavera Bruce, localizado na Zona Oeste da cidade. Durante todo o dia, foram realizadas 22 ações de guarda compartilhada entre as internas e os cuidadores temporários dessas crianças e adolescentes.
Sem ver as filhas há mais de um ano, a interna Vanessa Justa se emocionou ao poder abraçar as filhas depois de muito tempo. Acompanhada de sua mãe, Vanice Justa, Vanessa deu entrada na ação de guarda, que sairia no mesmo dia após audiência com os Juízes do Tribunal de Justiça presentes na ação.
— Eu não consigo nem descrever tudo que eu estou sentindo agora. Só quem é mãe e está aqui dentro vai entender o sentimento de você não poder ver os seus filhos todo dia. A minha vontade é de nunca mais sair desse abraço, mas não tem jeito. Agora com a guarda compartilhada com a minha mãe, eu vou poder ver minhas filhas mais vezes e participar um pouco mais da criação dela, eu só tenho a agradecer a vocês! — relatou a interna.
De iniciativa da Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da DPRJ, o evento foi feito em parceria com o projeto “Amparando Filhos” da Comissão de Valorização da Infância do Tribunal de Justiça do Rio. Voltado para mulheres encarceradas, grávidas ou mães, o projeto visa minimizar os efeitos danosos da prisão em seus diversos aspectos ao possibilitar medidas de proteção sociojurídicas e garantir o direito à convivência familiar da criança.
Além de Vanessa, outras 20 internas foram beneficiadas pelas ações de guarda. Para Adrielly Cruz, poder dividir a guarda da filha com a sua mãe, Adriana Souza, vai ser um alívio e um conforto para a saudade de todos os dias.
— Eu não vejo a minha filha há meses porque ela mora muito longe daqui, agora que nós vamos dividir a guarda, mesmo de longe eu vou poder acompanhar mais sobre a vida dela. Eu quero poder saber onde ela vai estudar, se ela está tirando notas boas, ajudar no que eu puder daqui de dentro. Eu penso na minha filha todos os dias e quero poder sair daqui sem que ela me esqueça — contou Adrielly, emocionada.
Para as defensoras públicas Daniela Considera e Valeria Kelner, o diferencial das ações de guarda que foram realizadas está no compartilhamento dos cuidados não só entre genitores (pai e mãe), mas entre a genitora privada de liberdade e um terceiro familiar, o que é algo bem diferente do que é feito.
— Nós fizemos toda uma preparação prévia das famílias juntamente com a equipe psicossocial da CDEDICA e do NUSPEN, para no dia de hoje, além do atendimento, a gente pudesse proporcionar o reencontro das mães com seus filhos e filhas. Foi um momento de muita emoção não só para as internas, mas para toda a nossa equipe — disse Daniela.
Neste sentido, Kelner afirma que a intenção principal é da ação social é que essas mulheres continuem tendo participação nas decisões importantes em relação às crianças, bem como o estreitamento de laços.
— Foi um dia emocionante. Muitas crianças não visitavam as mães há bastante tempo, justamente por não terem a guarda formalizada. Diversos estudos mostram que a convivência não é boa só para a criança, mas também para as internas, isso dá um propósito de vida para elas e faz com que a ressocialização seja muito mais bem sucedida. Elas melhoram o comportamento para conseguirem voltar a conviver com seus filhos(as) — explicou a defensora.
Texto: Jéssica Leal
Fotos: Emily Assunção