Foi com expectativa que dez alunos compareceram, nesta segunda-feira (7), à aula inaugural da quarta edição do Projeto Acelerando a Escolaridade, desenvolvido pela Defensoria Pública do Rio junto a pessoas em situação de rua ou alojadas em abrigos públicos. O dia que marcou o retorno do projeto interrompido pela pandemia contou com uma aula de matemática.
— Eu estou estudando no Acelerando para poder dar um futuro melhor para os meus filhos. Além disso, a companhia daqui me faz bem, me faz acreditar mais em mim e que sou capaz de ser uma boa mãe — contou Karen Cristina da Silva, de 31 anos, que vê os estudos como uma forma de se reaproximar da filha Karina, que foi adotada, e também sustentar seus outros dois filhos, Pedro e Lucas.
Com 18 pessoas inscritas, a iniciativa tem como objetivo aprimorar a leitura, facilitar a compreensão de operações matemáticas básicas e oferecer conhecimentos gerais de história e geografia. Além disso, o projeto também discute noções de cidadania e cuidados com a saúde.
O projeto já atendeu cem homens e mulheres em situação de vulnerabilidade social por falta de moradia e acesso à direitos. Como o Ronaldo Augusto que ficou em situação de rua por quase três anos. Hoje, ele atribui parte de sua conquista de ter um lar aos projetos que participa.
— Eu consegui sair dessa situação com a ajuda das pessoas que integram os projetos da Defensoria Pública. Hoje estou fazendo bicos para pagar o meu aluguel e quero voltar a estudar para vencer na vida — disse Ronaldo.
A maior parte dos alunos que compareceram na aula já participavam do projeto antes da pandemia de Covid-19 interromper o curso. Nos próximos dez meses, os inscritos terão quatro encontros semanais, de segunda a quinta-feira, das 14h30 às 16h, além dos passeios culturais pela cidade. No final do ano letivo, aqueles que tiverem a frequência comprovada maior que 60% receberão certificado de conclusão, presença e participação.
— Quando eu cheguei aqui eu tinha o sonho de terminar a 8ª série e hoje já estou no segundo ano do ensino médio. Agora eu me matriculei em um curso gratuito de inglês e em outro de informática e pretendo tentar o enem para entrar em uma faculdade — disse Esmeraldina Pereira de Souza, de 58 anos, que participa do projeto há três anos.
O projeto Acelerando a Escolaridade é uma parceria entre o Centro de Estudos Jurídicos (Cejur), o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) e a Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj), onde são ministradas as aulas.
Participaram da aula inaugural o presidente da FESUDEPERJ, Arnaldo Goldemberg, e o diretor do CEJUR, José Augusto Garcia, que enfatizaram o poder da educação e seu potencial transformador.
— Eu fico até emocionada de falar, mas é muito gratificante ver que alguns deles já conseguiram até sair das ruas, que estão correndo atrás de seus direitos. Esse é o papel da educação, mudar a realidade. Aqui eu vejo uma oportunidade de ajudar de alguma forma essas pessoas — acrescentou Pâmela Winnie, professora de matemática do projeto.
Foto: Matheus Reis
Texto: Roberta de Souza