Defensoria e Ouvidoria realizam escutas com movimento do funk no Rio
A Ouvidoria e o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública se reuniram nesta quarta-feira (15) com representantes do movimento funk no Rio, na sede da DPRJ, no Centro. A proposta do encontro foi abrir espaço para uma escuta qualificada em busca do aperfeiçoamento da atuação da Defensoria no campo da liberdade de expressão artística, iniciando com o movimento musical do funk.
A ideia partiu da vontade de ampliar a atuação da Defensoria Pública em duas frentes da liberdade de expressão: política e artística. O ouvidor geral, Guilherme Pimentel, trouxe a ideia de começar a desenvolver a proposta com um dos setores que mais sofrem violações e preconceitos: o funk carioca. Questões como repressão aos eventos e aos artistas, bem como a criminalização dos mesmos, foram os focos da pauta.
– É um primeiro momento de escuta qualificada para desenvolvermos essa parceria do movimento cultural do funk com a Defensoria, que é uma instituição de acesso à justiça e garantia de direitos e sabemos que nesse movimento diversos direitos são violados. Por isso vamos dividir a escuta em dois momentos para discutir a questão dos artistas, em relação à produção musical, e dos produtores, com a criminalização dos bailes – destacou o ouvidor.
Um dos casos abordados foi a morte do jovem João Pedro, em São João de Meriti, na semana passada. O rapaz de 17 anos tinha como sonho ser MC e estava em um baile fazendo uma apresentação. A polícia chegou e efetuou disparos para dispersar o evento, mas acabou acertando João Pedro, que estava no palco. A Ouvidoria está acompanhando a família.
A defensora Maria Julia Miranda que atua no Nudedh esteve presente no encontro e enfatizou a importância dessa parceria para apoiar a luta do movimento.
– É o início de uma longa caminhada para a construção de uma parceria unindo nossa atuação na garantia de direitos às necessidades do movimento. E, para isso, é fundamental escutar quem vive o problema – disse a defensora do Nudedh.
Relatos dos participantes
– Estou me sentindo em casa aqui na Defensoria. A gente não precisa de voz, porque voz a gente tem, a gente precisa de alguém para nos ouvir, potencializar nossa luta, e garantir nossos direitos – apontou um dos participantes MC Leonardo, uma das grandes personalidades do movimento, atuante há mais de 20 anos, que desenvolveu junto com seu irmão, MC Junior, o grande clássico “Rap das armas”.
Outro grande nome da cena do funk carioca presente foi o MC Galo que chegou a ser preso em 2010 e depois acabou inocentado.
– A gente canta o que a gente vive, se consideram isso ruim, então temos que trabalhar a realidade da favela, não simplesmente reprimir – concluiu o MC.
Estiveram presentes na reunião aproximadamente 15 profissionais do funk e grupos como EAE Som, Relíquias do funk, Dinossauros do funk, Faferj, Escola de MCs da Rocinha, Clube Emoções, responsáveis por bailes funk que revelaram centenas de artistas brasileiros. Esse foi o primeiro encontro desse projeto de escuta que pretende ainda ser desenvolvido para abranger cada vez mais representantes do movimento.
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Texto e fotos: Jaqueline Banai
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