“Eu clamo as pessoas negras que já estão na Defensoria Pública, seja ocupando o cargo de defensor, servidor, estagiário ou residente, clamo que vocês reverberem a luta antirracista dentro da instituição”, pontuou a coordenadora de Promoção de Equidade Racial (Coopera), Daniele Magalhães, nesta sexta-feira (27), durante o  webinar que apresentou os resultados do 1º Censo Étnico-Racial da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ). O relatório aponta que mais da metade dos colaboradores consideram que existe desigualdade racial dentro da instituição. 
 
O documento foi apresentado pela diretora de Estudos e Pesquisas de Acesso à Justiça da DPRJ, Carolina Haber. O relatório se dividiu em duas iniciativas: atualização do registro funcional dos integrantes da Defensoria, que teve participação de 3.913 pessoas (79,8% do total da instituição), sendo 61,4% que se autodeclararam brancos, 37,3% negros, 1% amarelos e 0,4% indígenas. Já no formulário do Censo, no campo perfil social dos integrantes, 1.157 pessoas responderam, com um percentual de 55,1% brancos, 43,8% negros e 0,9% amarelos.
 
Outro dado importante, baseado no perfil social dos colaboradores, é a pequena quantidade de pessoas negras em cargos de maior responsabilidade. Enquanto apenas 13,8% dos defensores se definem como negros, 64,8% dos funcionários terceirizados se encaixam nessa categoria étnica-racial, única das funções dentro de instituição onde a população branca não é maioria.
 
O evento contou ainda com a participação do defensor público geral, Rodrigo Pacheco; da presidenta da Adperj, Andrea Sena; do presidente da Associação dos Servidores da Defensoria Pública do Estado do Rio (Asdperj) Gustavo Belmonte; da representante do Fórum Justiça, Ana Paula Sciammarella; e da coordenadora de Criola, Lúcia Xavier. A mediação ficou a cargo da coordenadora e da subcoordenadora do Coopera, Daniele Magalhães e Adriana Britto.
 
- Penso que mais pra frente vamos poder pensar em como uma mudança da arquitetura institucional pode incidir nas práticas da Defensoria. Eu acho o Censo uma bola dentro, um pontapé maravilhoso para o desdobramento de pesquisas e interesse de alunos e alunas negras em trabalhar com esse tema da arquitetura institucional no sistema de justiça e mais do que isso: dialogar com indicadores que já existem para a transformação desse espaço institucional - pontuou a representante do Fórum de Justiça, Ana Paula Sciammarella.
 
Para Lúcia Xavier, da Ong Criola, ainda há entre os órgãos públicos a ideia de que não devem satisfação sobre a diversidade racial das instituições, de que isso não faz parte das dinâmicas que devem importar para a vida pública e a sociedade que leva em consideração a informação e a transparência como valor. 
 
- Eu acredito que trabalhos como este são fundamentais porque são eles que vão permear novas ideias e processos que afirmaram mais direitos e mais cidadania, por isso eu parabenizo a iniciativa - afirmou Lúcia.   
 
Para a presidente da Adperj, o relatório é uma grande oportunidade de um olhar amplo, para fora e para dentro:
 
- Para a Adperj é uma honra participar do lançamento deste relatório e ter apoiado para que atingisse seus objetivos e para que pudéssemos contar com a participação mais ampla possível dos atores desse importante diagnóstico, que trabalham por uma Defensoria ainda mais eficientes e que diariamente se confronta com a dura realidade do racismo - disse Andrea Sena.
 
O presidente da Asdperj Gustavo Belmonte também falou da importância do Censo:
 
- É muito importante a gente perceber que o Censo não é um fim em si mesmo. Ele vai mapear para sabermos quem e quantos somos e em que situação estamos, mas ele serve muito mais para a instituição conseguir, a partir dele, implementar políticas e estratégias antirracistas de forma que a Defensoria Pública trabalhe para ter uma instituição menos desigual e consequentemente que isso se reflita na sociedade - pontuou.
 
Veja o relatório na íntegra aqui



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