A Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) apresentou nesta terça feira (1) a primeira live do projeto Nudem Convida. Idealizado e produzido especialmente para difundir as temáticas que mais impactam a vida das mulheres e aproximá-las da atuação especializada na defesa de direitos, o evento inaugural destacou a atuação do Núcleo de Defesa do Direito da Mulher (Nudem) e apresentou reflexões sobre o atendimento acumuladas nestes quase 23 anos de existência.  

Nesta edição, participaram as defensoras Matilde Alonso, coordenadora do Nudem, Flávia Nascimento, coordenadora da Defesa dos Direitos da Mulher (Comulher), e Arlanza Rebello, defensora pública aposentada e ex-coordenadora da Comulher. As convidadas destacaram que a escuta da mulher é uma prática essencial para estabelecer o diálogo e a construção de sua defesa. Segundo elas, uma visão menos atenta pode sugerir que as histórias são iguais, ainda que guardem semelhanças, mas só o acolhimento empático é capaz de revelar a singularidade de cada relato.
 
 - Foram muitos anos de descobertas. Uma das primeiras é que a gente está junto. Não são elas, somos todas nós que passamos por violências. Se pararmos para pensar, em poucos minutos conseguimos elencar essas situações. O que varia são nossas subjetividades e contexto social, que nos permitem lidar melhor ou pior com as violações. Esse reconhecimento é primordial para fazer um bom atendimento - pontuou Arlanza durante a live.

 Por sua vez, Matilde afirmou que a virada de chave na atuação do Nudem acontece a partir da compreensão de que o serviço não é para elas, mas sim para todas, incluindo as defensoras. Para ela, trabalhar com a defesa dos direitos da mulher proporciona esse autoconhecimento. 

 - Toda mulher, cada uma de nós, está experienciando algum grau de vulnerabilidade e pode, a qualquer momento, sofrer as consequências dessas violações. Quando a gente entende que está atuando por nós, por uma sociedade mais justa e menos desigual, é uma imensa gratificação e responsabilidade - afirmou Matilde.

O trabalho do órgão durante a pandemia também foi enfatizado. Mesmo à distância o Nudem conseguiu atender as demandas de forma remota e, surpreendentemente, quase dobrou o número de atendimentos. Segundo Flávia Nascimento, no início houve uma redução no atendimento com a suspensão do presencial, mas a cada mês esses atendimentos foram aumentando até chegar aos atuais 600 mensais. 

A coordenadora da Comulher ressaltou também que mulheres de outros municípios tiveram mais acesso ao Nudem dessa forma remota, tornando-se uma porta de entrada para as vítimas de violência de gênero. Para ela, isso gera algumas questões a refletir.

 - Como o Nudem tem atribuição para todo o estado, o polo de atendimento remoto, o PAR Nudem encurtou distâncias na atuação com as mulheres e também na relação com os serviços de atendimento à mulher em situação de violência de gênero para além da capital. A questão espacial, o rede de transporte, a pouca informação e a dificuldade financeira interferem radicalmente no acesso, já que o núcleo funciona no Centro da cidade do Rio de Janeiro - pontuou Flávia.

A DPRJ criou o Nudem em novembro de 1997 e foi a primeira defensoria a ter formalmente um órgão com atribuição especializada no atendimento às mulheres - antes mesmo da existência da Lei Maria da Penha (Lei 11.340), de 2006. O evento contou não só um pouco da história do órgão como colocou em debate as formas de violência e de proteção para as mulheres. A live se repetirá às primeiras terças-feiras do mês, a partir das 10 horas. O próximo Nudem Convida está agendado para 6 de outubro.



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