As dificuldades enfrentadas — e superadas — pela enfermeira Marta de Santana Silva para que o plano de saúde autorizasse cirurgia renal de urgência coincidiram com o pico da pandemia no Estado do Rio e ajudam a entender como funciona o atendimento remoto da Defensoria Pública, implantado em 23 de março e agora adotado como rotina.
Durante cinco semanas, Marta, moradora de Duque de Caxias, fez contato, várias vezes, quase sempre por whatsapp, com o Núcleo de Primeiro Atendimento local e com a defensora Marina Lopes, da 2ª Vara Cível, para vencer cada um dos muitos obstáculos impostos pela Caberj Integral Saúde. O desfecho se deu em 2 de junho, quando finalmente a cirurgia aconteceu. Não sem antes mais um contratempo, só contornado graças também ao atendimento a distância.
No dia da operação, o Hospital Nossa Senhora do Carmo, em Campo Grande, alegou falta de comunicação com o plano de saúde para negar a internação de Marta que, de imediato, da recepção, por mensagem, relatou o problema à 2ª Vara Cível de Caxias. Em questão de minutos, a defensora Marina Lopes respondeu enviando cópia da decisão judicial de abril, que havia determinado a realização da cirurgia.
Marina Lopes procurou também o plano de saúde, mas a paciente já estava a caminho do centro cirúrgico antes mesmo de retorno do departamento jurídico da Caberj.
— Se não houvesse o atendimento remoto, não teríamos como saber que, na hora da cirurgia já previamente agendada, o hospital iria alegar dificuldade de conexão com o plano de saúde para não autorizar a internação. Ela tinha se preparado, inclusive estava de jejum e, na hora marcada, por pouco o procedimento não foi cancelado. Pelas mensagens, percebi o quanto ela estava nervosa e se sentia desamparada — conta a defensora Marina Lopes.
Apoio e solução
Foi assim, sempre por meios eletrônicos, que Marta conseguiu apoio e solução para todos os empecilhos impostos pela operadora do plano de saúde durante a pandemia. O primeiro contato a distância com a Defensoria foi em 24 de abril: a enfermeira recorreu ao Núcleo de Primeiro Atendimento de Caxias, pois a Caberj havia rescindido o contrato — o que ela só soube ao tentar pagar a mensalidade —, sob alegação de “inelegibilidade” para determinados procedimentos em período de carência do plano.
A defensora Alessandra Bentes, então, ajuizou ação que acabou por garantir, em caráter liminar, não só o restabelecimento imediato da cobertura contratada como também a obrigação de realizaçã de procedimento hospitalar já prescrito pelos médicos para retirada de cateter, implantado em intervenção anterior, e extração de cálculo renal.
Ainda assim, os problemas persistiram. Embora o prazo dado pela Justiça fosse de 24 horas para a operação, era preciso fazer risco cirúrgico. A enfermeira voltou a enviar mensagem para a Defensoria que, em 18 de maio, requereu à Justiça obrigasse a Caberj a bancar a realização de uma tomografia computadorizada do abdômen. O plano acabou por conceder autorização para todos os exames sem que fosse preciso apresentar ordem judicial. Vencida a etapa, a operação foi então agendada para 2 de junho.
— Agradeço muito o tratamento que recebi. Todas as vezes em que eu e minha tia, que sempre me acompanhou, tentamos falar por celular e whatsapp com a Defensoria, fomos atendidas rapidamente. Não foi uma única vez, foram muitas. Fiquei muito satisfeita, sei que tudo foi conduzido da melhor maneira possível — relata a enfermeira.
Marta já conhecia os serviços da Defensoria Pública, da época em que todo o atendimento era presencial. No ano passado e em fevereiro deste ano, ela esteve no Plantão Noturno para fazer valer o direito a outras intervenções cirúrgicas, também por conta de problemas renais.
— Não sabia que agora tudo podia ser resolvido de longe, mas posso afirmar que o atendimento a distância funcionou muito bem. Todas as vezes em que precisei, a resposta veio sem demora — afirma Marta.