Em homenagem ao mês das mulheres a Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) – por meio de sua Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Mulher, Núcleo de Atendimento à Pessoa com Deficiência (Nuped) e Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos (Nudiversis) – promoveu, na última quinta-feira (12), o evento “Capacitismo e Mulheres com Deficiência”. O debate foi construído em torno das dificuldades e preconceitos vividos pelas mulheres com deficiência.
A mesa de abertura foi composta por Pedro González, coordenador do Nuped; Adriana Britto, Diretora de Capacitação do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) da DPRJ; Flávia Nascimento, coordenadora de defesa dos direitos da mulher; Letícia Furtado, coordenadora do Nudiversis; e Paloma Lamego, segunda defensora pública-geral.
– O capacitismo é o equivalente ao racismo quando tratamos da discriminação de raça e ao machismo que nos referimos a discriminação em razão do gênero. É o preconceito, a discriminação, em razão da deficiência – afirmou Pedro González na abertura do evento.
Três integrantes do Coletivo Feminista Helen Keller participaram do debate: Thaís Victa, professora e especialista em Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher; Fernanda Shcolnik, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretora da Associação dos Deficientes Visuais na Universidade Federal Fluminense (UFF); e Luana Rayalla, mulher trans graduanda em Biblioteconomia e Documentação na UFF e integrante da Associação Gonçalense LGBTI+.
Thaís trouxe um pouco da sua experiência como surda oralizada, desde a infância. Ela explicou que palavra capacitismo surgiu do termo em inglês “ableism” e que é usada para descrever a discriminação, preconceitos e opressão contra pessoas com deficiência. Segundo Taís, o capacitismo inclui a discriminação ativa, consciente, como insultos e considerações negativas, quanto a discriminação passiva, inconsciente, como tratar as pessoas com deficiência com pena, o chamado “coitadismo”.
Fernanda, por sua vez, tem baixa visão. No debate, ela chamou a atenção para as questões relacionadas à violência contra a mulher com deficiência. Ela comentou o fato de que a maior parte das pessoas com deficiência no Brasil são mulheres e que parte desses casos de agressões registrados são praticadas pelo parceiro. De acordo com ela, quase metade das mulheres que nascem com deficiência sofrem abuso sexual antes dos 18 anos.
– Sempre ouço coisas como ‘nossa, você é professora e tem deficiência? Como pode isso?’ ou ‘é legal porque você é um exemplo de superação’. Nós não somos coitados e nem super heróis – destacou.
Fechando o evento, Luana colocou em debate os preconceitos que sofre por ser travesti e pessoa com deficiência. Narrou que a discriminação começou ainda cedo, dentro da própria família, porque alguns parentes afirmavam que sua deficiência era culpa de sua genitora e outros não aceitavam o gênero com o qual ela se identificava. Luana narrou que as pessoas costumam se surpreender quando descobrem que é travesti, porque não acreditam que uma mulher com deficiência também pode ser transgênera. Ela conta atualmente apenas com o apoio da mãe
- Embora se discuta muito sobre as diversas formas de discriminação contra as mulheres, pouco se aborda a vulnerabilidade das mulheres com deficiência. Sobretudo quando ela se encontra em situação de violência. É preciso ouvir esse grupo para viabilizar seu acesso à rede de proteção às mulheres. - afirmou Flávia Nascimento, coordenadora de defesa dos direitos da mulher.