As cirurgias oncológicas no Estado do Rio de Janeiro tiveram uma redução de 25% depois que a pandemia começou. Os tratamentos de câncer, com exceção de radioterapia e quimioterapia, também caíram 24,8%. E as consultas ambulatoriais para esses pacientes foram reduzidas em 21,9% no primeiro trimestre da pandemia, comparada com o trimestre anterior. Os dados são da pesquisa "Assistência Oncológica do Estado do Rio de Janeiro durante a pandemia de Covid-19" realizada pela Coordenadoria de Saúde e Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Rio em parceria com Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O estudo verificou ainda afastamento de profissionais de saúde durante o primeiro trimestre, redução de encaminhamentos às unidades de saúde, aumento de ausência de pacientes nas sessões de quimioterapia e necessidade de mudança de protocolo devido à falta de medicamentos. Para levantamento dos dados, foi elaborado um questionário online que foi enviado via ofício às unidades que compõem a rede de alta complexidade em oncologia do SUS no Estado do Rio de Janeiro. Os dados solicitados no questionário são referentes ao trimestre anterior à pandemia (dezembro/2019, janeiro e fevereiro de 2020) e ao primeiro trimestre de pandemia (março, abril e maio de 2020). 

Observou-se um percentual de afastamento de 14,6% de médicos, 15,5% de enfermeiros, 22,7% de técnicos de enfermagem, 12,5% de auxiliares de enfermagem e 26,5% de outros profissionais no período. No total de todas as categorias pesquisadas, foi visto um afastamento de 20,4% dos profissionais alocados em unidades especializadas em oncologia durante o período de março a maio de 2020. Este dado pode ter gerado um déficit no quadro de profissionais das unidades, levando a diversas mudanças na organização dos serviços, como: redução na oferta de serviços oncológicos, necessidade de realocação de profissionais especialistas em oncologia para outras funções, diminuição das atividades administrativas de alimentação de banco de dados para registro de atividades e captação de recursos, entre outros.

- A redução na oferta de ações assistenciais voltadas ao combate do câncer (consultas, cirurgias, radio e quimioterapia) em patamar semelhante de 20% revela como, mesmo diante da determinação de manutenção desse tratamento durante a pandemia pelas autoridades sanitárias, a Covid-19 impactou na garantia de atendimento às demais necessidades de saúde, confirmando a reiteradamente denunciada precarização das redes de atenção à saúde no Estado do Rio de Janeiro. Sem novo aporte de recursos materiais e humanos, era esperado que uma rede tão subfinanciada e desorganizada não desse conta do acréscimo de demandas decorrentes da Covid-19 sem prejudicar o atendimento das demais doenças. Infelizmente, a despeito de todos os esforços judicial e extrajudicialmente, o Estado enfrentou três repiques de casos de Covid-19 sem um prévio e adequado planejamento e corre-se o risco de repetir o mesmo erro no caso de um quarto aumento de casos provocado pela disseminação da variante Delta - disse a coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Rio, Thaisa Guerreiro.
   
Foi mencionado ainda nas respostas o desabastecimento de Docetaxel, droga utilizada para o tratamento do câncer de mama, por quatro unidades de saúde (26,6% das unidades); além de analgésicos (6,7%) e anestésicos (6,7%), ambos mencionados por apenas uma unidade cada um. Dentre as 15 unidades que responderam ao questionário, 80% afirmaram ter um Plano de Contingência criado para o enfrentamento do novo coronavírus na unidade, enquanto 20% dos representantes de unidades não souberam responder. Foi solicitado o envio dos planos para a Defensoria, porém foram recebidos apenas oito (66,6%) das doze unidades que afirmaram possuir até o momento da elaboração do relatório.     

O estudo também mostra as deficiências na oferta de tratamento adequado para pessoas com câncer antes da pandemia. Vistorias feitas pelo Cremerj entre os anos de 2016 e 2019 consolidadas no levantamento mostram que os leitos de cuidados paliativos não existem em 88% das unidades, sendo oferecidos de acordo com a demanda. Com relação aos leitos oncológicos, 44% das unidades afirmaram não possuir nenhum leito específico para casos de oncologia, sendo ofertados de acordo com a demanda; e 13 estabelecimentos afirmaram possuir leitos específicos, apresentando uma mediana de 20 leitos por unidade de saúde, variando de 6 a 77 leitos.

Veja o estudo completo aqui.



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