Busca ativa realizada pelo 8º Núcleo Regional de Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ), na comarca de Petrópolis, aponta que 77% dos assistidos pela instituição no município relatam sofrer com algum tipo de problema psicológico. Em contrapartida, os dados, que serão base para construção de um panorama que possibilite a elaboração de estratégias eficientes de cuidado com a saúde mental, apontam que, mesmo que quase todos considerem a pandemia como fator amplificador dos sintomas, menos da metade das pessoas que procuraram o Sistema Único de Saúde (SUS) conseguem atendimento.
Seja em nível extremo, com ansiedade e depressão, ou em formas relativamente mais brandas como insônia ou excesso de preocupação, os dados revelam um número alarmante de pessoas afetadas psicologicamente pela pandemia. Na pesquisa, que contabilizou 142 respostas, 77,3% das pessoas relataram sofrer com dificuldades psicológicas. Outros 20,6% conhecem alguém que sofre, totalizando 97,9%. Ao mesmo tempo, 95,7% dos assistidos que têm sintomas afirmam que eles pioraram após o início da pandemia.
Mais da metade dos assistidos (cerca de 51,4%) sinalizaram não estar recebendo nenhum tipo de tratamento. Entre as reclamações, destacam-se os relatos de falta de médicos e medicamentos. Apenas 4,1% dos participantes da busca ativa afirmam receber os medicamentos por meio do SUS, enquanto outros 84,6% não conseguem ter acesso aos itens farmacêuticos de forma gratuita.
O 8º Núcleo Regional de Tutela Coletiva da Defensoria Pública – assim como os demais existentes no Estado e que atendem todas as cidades fluminenses – atua diretamente na fiscalização da atuação do gestor público no enfrentamento da pandemia, cobrando o fornecimento de insumos hospitalares, a regulação dos leitos, cumprimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e diversos outros pontos. Contudo, segundo a defensora Renata Duarte, responsável pela pesquisa ao lado da Defensora Andréia Vidal, há um efeito reflexo imediato que também merece atenção: o cuidado com o bem-estar emocional da população diante de tantas angústias, incertezas, medos, inseguranças, perdas e ausência de perspectivas concretas para o fim da pandemia.
- É dever do Estado fornecer todos os recursos médicos e psicológicos disponíveis para fazer cessar ou ao menos mitigar o sofrimento das pessoas, além de fornecer ferramentas para aquelas que precisam de apoio para seguir enfrentando a pandemia que, infelizmente, está longe de acabar. Do contrário, muitas pessoas terão drásticas reduções em sua qualidade de vida, com sofrimento psíquico evitável - pontuou a defensora pública Renata Duarte, responsável pela busca ativa.
Também segundo a defensora, só a partir da coleta desses dados será possível definir um diagnóstico que poderá pautar a melhor atuação coletiva estratégica em todas as áreas referentes à saúde mental, desde o atendimento especializado até a possível internação. Para ela, apesar de não se poder afirmar de forma categórica o aumento de transtornos mentais, está evidenciado um cenário de importante afetação do bem-estar mental durante a pandemia.
- Em se tratando de atuação coletiva, antes de qualquer ação é preciso um diagnóstico do cenário atual, para que, só então, sejam definidas as formas de atuação, seja construindo soluções estruturais para os problemas encontrados de forma conjunta com a Administração Pública, seja buscando, através de medidas judiciais o cumprimento de direitos de forma coletiva e sistemática - concluiu a defensora.
Texto: Igor Santana